Poucos presidentes – em Portugal será caso único – se podem orgulhar de ouvir o seu nome ser entoado a plenos pulmões, pelos adeptos do seu clube, jogo após jogo, nos diversos campos do país. A realidade é que Pinto da Costa é um caso raro de unanimismo dentro do seu clube, um caso único na história do futebol nacional. Amado pelos portistas, idolatrado pelas massas populares da «Cidade Invicta» afetas ao clube, e a sua liderança icónica e carismática transformou para sempre o seu clube e o equilíbrio desportivo em Portugal. Fora da Invicta, em casa dos rivais, Pinto da Costa representa como que uma personificação diabólica de uma figura maquiavélica, odiada por muitos, temida por outros tantos, não haverá um adepto rival que lhe seja indiferente. Amado ou odiado, tem por certo o seu lugar marcado na história e será difícil encontrar um português que não tenha opinião formada sobre ele.
Filho da burguesia portuense


Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa nasceu no seio de uma tradicional família burguesa, na freguesia de Cedofeita, cidade do Porto, a 28 de dezembro de 1937. Depois dos estudos primários e de aulas privadas em casa de inglês e de francês vai estudar para o famoso Colégio Jesuíta das Caldinhas, em Santo Tirso, onde nunca se deu bem com a dura disciplina dos clérigos, demonstrando desde cedo um génio e rebeldia difíceis de conciliar com a obediência acrítica. Dececionado com a vida académica, acaba por não seguir o caminho do seu irmão, não continuando os estudos, abdicando da possibilidade de ingressar na universidade, para voltar ao Porto, onde inicia a vida profissional, ajudando nos negócios da família.
Ouvir Calabote pelo rádio Anos antes, ainda na infância, descobrira o amor da sua vida, a paixão avassaladora pelo FC Porto. Guiado pelo seu tio, assistiu ao primeiro encontro dos azuis e brancos contra o SC Braga e mais tarde estaria entre os adeptos que se deslocaram a Torres Vedras para acompanhar o jogo da última ronda que podia dar o título aos portistas, numa tarde de sol, drama e muito suspense… Trata-se da famosa tarde em que enquanto o FC Porto vencia o Torreense por 0x3, na Luz, o benfica vencia a CUF por 7×1, com a famosa arbitragem de Inocêncio Calabote, que ainda hoje provoca acaloradas discussões. Entre a multidão, o jovem Jorge Nuno foi um dos muitos que sofriam, com os olhos no relvado e os ouvidos colados ao rádio. A situação atingiu picos de dramatismo durante os doze minutos que mediaram entre o fim da partida em Torres Vedras e o apito final em Lisboa, tendo sido este momento, na opinião do próprio, um dos mais marcantes na sua formação futebolística, no qual chorou de alegria pela vitória do seu clube.
De jogador a dirigente


Entretanto ainda jogou futebol no Infesta e foi guarda-redes no Sporting de Coimbrões, um clube de Vila Nova de Gaia, antes de se tornar dirigente do FC Porto pelas mãos de Cesário Bonito, como chefe da secção de hóquei em patins. Tinha então 35 anos. Do hóquei patinado passou para o de campo e mais tarde para o pugilismo, onde se tornaria diretor durante o consulado de Afonso Pinto de Magalhães. Foi nessa altura que conheceu Reinaldo Teles, futuro companheiro de luta e que era então um dos pugilistas do clube. Ao futebol chegaria por indicação de Américo de Sá, em 1976, para chefiar o departamento de futebol, num período difícil em que o clube não festejava nenhum campeonato desde a famosa tarde de Torres Vedras em 1959.
«Largos dias têm cem anos…» Ao lado de Américo de Sá e com Pedroto como seu treinador lançou-se à conquista do Campeonato, há tantos anos longe das Antas, festejado em 1977/78. Seguiu-se o bicampeonato e o tri acabaria por escapar perto do final da época para os leões, provocando o estalar do verniz entre Américo de Sá e Pinto da Costa, que se vê afastado do clube com a denúncia pública do seu estilo truculento e a desproporção dos seus ataques a Lisboa, na opinião de Américo de Sá. As palavras do Presidente caem mal na nação portista e Pedroto e demais equipa técnica saem do clube em solidariedade com Pinto da Costa, enquanto 14 jogadores entram em greve, recusando-se a apresentar-se nas instalações do clube, treinando-se na praia, sozinhos. Na cidade corriam rumores de que seria Pinto da Costa que estava por detrás dos revoltosos mas todos os envolvidos no caso o ilibaram, acabando por se saber que eram os jogadores que custeavam os treinos.


Eram os dias do «Verão Quente» na invicta, onde as emoções vividas na zona das Antas, e um pouco por toda a cidade, elevaram a temperatura a valores bem mais altos do que as habituais provocadas pela canícula dos meses de verão. A «Guerra Civil azul e branca» acalmaria em Agosto de 1980. Oliveira saía do clube, Gomes era vendido, Octávio voltava para a sua Palmela. Sem os principais líderes do balneário a cabeça da rebelião estava cortada, Américo de Sá reforçava o seu poder, mas a verdade é que a sua era tinha os dias contados…
Senhor Presidente O FC Porto de Stessl – o treinador que veio substituir Pedroto – passou à história ganhando apenas uma Supertaça, e em 1982 Pinto da Costa voltava ao clube pela porta grande, recebido como herói e tornando-se no 33.º presidente do clube, após vencer as eleições. Com um já debilitado «Zé do Boné» no banco, Jorge Nuno Pinto da Costa inicia uma revolução no clube e por arrasto no futebol (e desporto) nacional, lançando as bases de um FC Porto de dimensão europeia. O primeiro grande troféu ganho durante a sua presidência seria simbolicamente conquistado pela secção de hóquei em patins que venceu a Taça das Taças, mas seria no futebol que o FC Porto se tornaria num clube reconhecido mundialmente.
À conquista da Europa: de Basileia a Viena Em 1984, com Pedroto já muito doente e incapaz de acompanhar a equipa, o FC Porto perde a final da Taça das Taças, mas a máquina de sucesso do clube estava lançada. No princípio do ano seguinte, José Maria Pedroto perde a sua batalha com o cancro, provocando enorme comoção na nação portista e em Jorge Nuno Pinto da Costa, profundamente comovido por perder o amigo, e companheiro de luta.


Mas o FC Porto de Pinto da Costa, à imagem de Pedroto, sabia fazer da fraqueza a sua força e recuperou para ser campeão no final dessa época, depois de, numa jogada de mestre, Jorge Nuno contratar o jovem Paulo Futre ao Sporting. Com Futre, Gomes, João Pinto e Madjer o FC Porto conquistou o bicampeonato e abriu as portas da Taça dos Campeões de 1986/87, que terminaria com a vitória em Viena, na noite do mágico calcanhar de Madjer. Seguiram-se a Supertaça europeia e a Taça Intercontinental e em Lisboa os rivais assistiam como que paralisados à ascensão do rival nortenho. O FC Porto desbrava o caminho, assumindo-se como uma força emergente do futebol do continente. Em Portugal os azuis e brancos, que entretanto passaram a ser conhecidos como dragões, tomaram de assalto o poder e deixaram o benfica e o Sporting quase restringidos ao papel de meros observadores das glórias portistas. Entre 1995 e 1999 o clube conquistou o «pentacampeonato», ultrapassando o tetra dos famosos «Cinco Violinos» do Sporting.
Um Porto de honra Na viragem do milénio dois títulos do Sporting e um do Boavista pelo meio marcaram a pior fase do seu reinado à frente do clube das Antas.


Mas seria ainda no ano do último título leonino que Pinto da Costa, em mais um golpe de visão, contratou José Mourinho, que fora demitido do benfica e recusado pelos sportinguistas, treinando então a União de Leiria e iniciando mais uma era dourada dos dragões. Enquanto o clube ia contruindo o novo Estádio do Dragão, Mourinho formava uma equipa em volta de Deco, Ricardo Carvalho, Jorge Costa e Vítor Baía, conquistando o campeonato de forma imperial, além da Taça de Portugal e regressando aos sucessos na Europa, vencendo a Taça UEFA. Um ano depois, além de novo campeonato, aquele que viria a ser o Special One, liderou os dragões à conquista da Liga dos Campeões, com um claro 3×0 sobre o Mónaco na final.
Mais vitórias Pinto da Costa, que nunca perdera o norte, liderou o clube à conquista do «tetra», entre 2005 e 2009. Depois de voltar a ficar em terceiro lugar pela segunda vez no seu mandato, no campeonato de 2009/10, foi buscar André Villas-Boas para liderar o barco portista, em mais uma jogada que se revelou brilhante.


Mais uma época de domínio avassalador, com o FC Porto a acabar a Liga pela primeira vez sem sofrer nenhuma derrota, conquistando o seu 25.º campeonato, além da Taça de Portugal e da Supertaça e coroando tudo isso com o triunfo na Liga Europa, o sétimo troféu internacional do clube. Campeonato atrás de campeonato o FC Porto de Pinto da Costa tornou-se uma máquina conquistadora de troféus, conseguindo resultados nunca antes atingidos por outro clube em qualquer outra era, ao ponto de nenhum dirigente no Mundo ter alcançado mais títulos do que ele.
Vítor Pereira acrescentou mais dois títulos nacionais ao clube, completando o tri. Os portistas investiram fortemente no plantel (Iker Casillas foi o exemplo mais mediático). A mais recente conquista do campeonato nacional foi em 2017/18, sob o leme de Sérgio Conceição, antigo futebolista dos azuis e brancos. Foi a 21ª vez que os dragões se sagraram campeões na era do icónico presidente.
texto: zerozero