38 anos depois de ser eleito como Presidente, Pinto da Costa esteve no FC Porto em Casa a falar do passado mas com foco no futuro
No dia em que se completaram 38 anos desde a eleição para o seu primeiro mandato como Presidente, Jorge Nuno Pinto da Costa entrou em direto no FC Porto em Casa. No programa da FC Porto TV, o líder máximo da instituição azul e branca dividiu o ecrã com os convidados desta sexta-feira, Jorge Costa e Vítor Baía, e com uma presença especial: José Mourinho.
À conversa com as figuras da história portista, desde o seu gabinete no Estádio do Dragão, Pinto da Costa começou por declarar que os capitães de equipa nas conquistas europeias de 2003 e 2004 “são parte importante da história do FC Porto. Representam uma época e uma mística que ainda hoje são exemplo para todos os jovens que tiveram a felicidade de vos ver jogar”. O Presidente não poupou nos elogios ao “Bicho” e ao “Balizas” e afirmou que se revê em todos os jogadores que passam pelo clube “mas o Jorge e o Vítor são dois casos especiais”.
O dirigente mais titulado da história do futebol mundial referiu, várias vezes, estar mais interessado em ganhar títulos no futuro do que reviver os do passado: “estamos todos a trabalhar para que seja assim. Direção, staff técnico, todos os jogadores e adeptos, todos acreditamos que vai ser possível”. “Não ganhámos nada. O que ganhamos começa amanhã”, sublinhou o Presidente Pinto da Costa numa despedida às oito badaladas.
A origem da mítica camisola dois
“O número dois começou a ser uma referência na altura em que os jogadores do FC Porto tinham de ser dez vezes melhores que os outros para irem à seleção. Agora é só duas ou três vezes. Começou com o Virgílio Mendes, um defesa direito extraordinário, do Entroncamento, com um caráter fantástico, e foi aí que começou o número dois a ser um número especial. Antes do João Pinto, que talvez o consagrou para a nova geração, mas a minha geração e a seguinte já tinham o número dois como especial em função do que foi o Virgílio.”
Desde 1982 a pensar no futuro
“Ainda hoje há um jornal que fala nos meus 38 anos, vi que hoje houve três que falaram – Jornal de Notícias, O Jogo e Record – e há um que diz 38 anos e 60 títulos. O que ganhámos é história, eu não estou preocupado. Gosto de rever o passado, as camisolas, as medalhas… Mas a história é para os historiadores, eu tenho de ter um pensamento fixado no que queremos ganhar. Eu e todos nós, os adeptos, estamos mais preocupados com o que temos para ganhar. O passado fica para os historiadores fazerem história, o presente temos que resolver os problemas e o futuro é que tem de nos preocupar a todos. Se tivéssemos ganho os sete títulos internacionais com outro presidente eu estava contente na mesma. Não fui eu que os ganhei, fomos todos, foi clube que os ganhou através dos jogadores e treinadores. Isso é que é importante.”
Capitães que lideravam pelo exemplo
“Vítor Baía e Jorge Costa eram ótimos. Tinham uma preponderância sobre os colegas sem precisar de puxar dos galões, era uma liderança natural. Tinham um comportamento, dentro do campo, que ninguém podia dizer nada. Podiam estar magoados e cansados, só se fosse impossível não continuavam. Viviam intensamente, transmitiam um amor ao FC Porto que era contagiante para os outros mas nunca foram capitães de ter que mostrar a braçadeira e dizer «atenção que eu sou o capitão». Eram capitães naturalmente, e por isso é que foram dois capitães fantásticos.”
Viena e Sevilha são as finais de destaque
“Quando pensam nas sete vitórias internacionais eu distingo duas: obviamente a primeira, em Viena em 1987 contra o Bayern de Munique, porque para muita gente era impensável o FC Porto alguma vez voltar a uma final depois de 1984. Eu acreditava e disse-o no meu primeiro programa e vencemos. Foi aí que se abriram as portas do futebol europeu e mundial para o FC Porto. A partir daí começou a ser um clube reconhecidamente competente e um clube que toda a gente passou a respeitar, pelo menos lá fora. Depois dessa, a mais emocionante foi a final de Sevilha, contra o Celtic. O ambiente era extraordinário, 50-50 entre portugueses e escoceses, o jogo foi emocionantíssimo com a marcha do marcador, foi bem disputado e foi um final emocionante, que ainda há dias tive oportunidade de rever, e vi uma coisa que não tinha visto na final porque, nos últimos minutos já não aguentava mais e vim para uma sala que tínhamos. Só agora no filme é que verifiquei que o Nuno Valente tinha sido expulso no prolongamento. Aos 90’ já tinha o coração aos saltos e fui para dentro. Foi de tal forma emocionante o jogo que teve um significado especial. E também porque, para muita gente, em 1987 aconteceu, o FC Porto foi campeão europeu como o Belenenses foi campeão nacional em 1955 e o Boavista em 2000. Não aconteceu, nós depois de termos ganho em 1987 também a Taça Intercontinental, passados aqueles anos voltámos a apresentar uma equipa que ganhou uma prova europeia. Muita gente achava que não era possível e só a nossa determinação e o valor da equipa, porque tínhamos uma grande equipa, isso fez-nos mostrar que não tínhamos ganho em 1987 por acaso e não ganhámos em 2003 por acaso, como se verificou logo no ano seguinte, ao sermos campeões europeus.”
Baía o melhor de sempre, seguido de Barrigana
“Subscrevo completamente que o Vítor Baía foi o melhor guarda-redes português de sempre, mas não estou de acordo quando diz que o é de muito longe, com uma grande diferença. Houve outro grande guarda-redes, perto do Vítor, que foi o Barrigana. Só os da minha geração, dos idosos como agora dizem, me darão razão mas o Barrigana foi o guarda-redes português que mais se aproximou. Se tivesse que dar nota 20 ao Baía, que dava, dava 19 ao Barrigana. Depois, os outros, de 15 para baixo.”
Futuro tem de ser preparado para satisfazer a massa associativa
“Toda a gente no clube tem que estar com a mentalidade de que temos um passado glorioso, temos um presente que nos motiva, mesmo no meio de todas as dificuldades, mas é necessário que todos os que tenham responsabilidades a qualquer nível do FC Porto, ou que venham a ter, estejam com a mentalidade de que partimos do zero. Não ganhámos nada. O que ganhamos começa amanhã. E é com esse espírito que nós temos de ultrapassar estes momentos delicados, difíceis, em que muita gente puxa para trás, muito dos que vão às televisões falar puxam para trás, mas é necessário com o espírito que o Jorge e Vítor tiveram dentro do campo, que toda a gente no FC Porto pense em preparar o futuro e fazer com que o futuro seja de vitórias, de glórias e de satisfação para toda a massa associativa do FC Porto.”
Pode rever aqui, na íntegra, a edição especial do FC Porto em Casa desta sexta-feira, comemorativa da eleição de Jorge Nuno Pinto da Costa para a presidência do emblema da Invicta, em 1982.
Fonte: FC Porto