Pinto da Costa espera que a DGS venha a alterar a decisão tomada para 2019/20, porque esta poderá causar um rombo na contabilidade dos clubes
A voz de Pinto da Costa tem sido a mais audível na luta pela devolução dos adeptos às bancadas dos estádios, mas o presidente do FC Porto garante que não é o único que considera a decisão da DGS “um absurdo” e acusa os governantes de só se preocuparem com o futebol quando é para entregar troféus.
O Presidente da República disse que, na próxima época, o público deveria regressar às bancadas. Espera que isso se concretize?
-O Presidente da República admitiu isso, o secretário de Estado disse-me que não compreendia… Toda a gente acha que é estúpido ter um estádio com cem camarotes e não poder estar lá pelo menos uma pessoa. Há camarotes que são de famílias e essas famílias estão juntas a ver televisão em casa, mas não podem estar juntas num camarote? É absurdo. Mas é assim. Será que ninguém se lembrou de que é assim? Está tudo à espera de que seja o outro a dizer? Ainda não encontrei ninguém que não tenha estranhado que, por exemplo, o FC Porto tenha aqui cem camarotes e não possam estar uma, duas ou três pessoas em cada um deles. Não há ninguém que me diga que isto tem razão de ser, mas é assim.
Culpa da DGS?
-Só por causa da DGS, mas é o que é. Também há tanto absurdo… Você quer maior absurdo do que o que está a acontecer no Novo Banco? Mas é assim e as pessoas estão lá. Ninguém vai preso e ainda são promovidas. Vão para governadores do Banco de Portugal, vão tudo, e ninguém acha bem. Você vai à Assembleia da República e estão todos a criticar, mas é assim.
Tem uma perspetiva do prejuízo do FC Porto pelo facto de os jogos decorrerem sem público?
-No FC Porto, o prejuízo é de cerca de 27 milhões de euros por uma época sem público. Agora, basta ver, proporcionalmente, o tempo que estamos sem público. São os camarotes que não se vendem, são os lugares cativos que não se vendem, é bilheteira que não se vende, é o consumo que não se faz nos bares e nas lojas, que estão fechados. Portanto, é tudo isso.
Sente-se sozinho nessa luta de devolver o público às bancadas?
-Não sei. Eu, quando falo com os colegas de outros clubes, todos estão de acordo comigo, todos pensam o mesmo: acham inconcebível. Não sei se não falam por medo ou por qualquer estratégia, ou por não lhes darem oportunidade de falar. Agora, que ainda não vi nenhum que não dissesse que isto é um absurdo, isso é verdade. Todos dizem isso.
A diretora executiva da Liga, Sónia Carneiro, disse que se iria reunir com a DGS…
-Não conseguiu marcar essa reunião: eles estão muito ocupados. Isto é gente muito ocupada, têm lá tempo. Mas o futebol serve para alguma coisa? O futebol só serve para o Presidente da República ir entregar a Taça e as medalhas… Essa gente alguma vez pensou que há milhares de pessoas tristes, que têm uma vida dificílima com que estarem preocupadas, que têm na ida aos jogos, como poderia ter sido o caso de sábado para os portistas e para os benfiquistas, o antídoto para as suas amarguras? Eles querem lá saber disso. A eles não lhes falta nada, nem televisão todos os dias para aparecerem. Não há sentimento, não há preocupação, não há serviço de missão, de modo que determinaram que às touradas podem ir. O FC Porto estava a jogar em Tondela, estavam 22 jogadores aos pontapés na bola e estavam lá apenas dez pessoas. Pela mesma hora, estavam os Xutos & Pontapés a dar um espetáculo num recinto fechado, no Tivoli,com 500 pessoas. Isto não é absurdo? Ando à procura de alguém a quem pergunte isto e que diga que não, que se compreende. Mas ainda não encontrei ninguém.
Fonte: O Jogo