Jorge Nuno Pinto da Costa em exclusivo ao Porto Canal e à FC Porto TV
Na noite desta terça-feira, Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto, concedeu uma entrevista exclusiva ao Porto Canal e à FC Porto TV. O presidente dos Dragões abordou vários temas da atualidade azul e branca, entre os quais a renovação do treinador da equipa principal, Sérgio Conceição, que verá o seu contrato ser renovado antes do fim da época desportiva, a renovação de atletas fundamentais para o clube e os objetivos da equipa A portista. O dirigente máximo do clube portista deixou ainda certezas sobre o alinhamento das contas do FC Porto e teceu críticas à arbitragem nos jogos da equipa B.
O abraço e o contrato de Sérgio Conceição
“A foto do meu abraço ao Sérgio Conceição simbolizou todo o meu agradecimento ao Sérgio pelo que tem feito e, sobretudo, foi um gesto para o compensar da perseguição de que é sempre alvo. Tem contribuído nas Conferências de Imprensa para a melhoria do futebol, referiu mais do que ninguém que o tempo útil estava a pecar, perdia-se tempo com faltas, tinha razão e houve uma mudança de critério. No abraço quis abraçar os jogadores e todos os que contribuíram para o momento importante e os que não puderam estar ali, como o Reinaldo Teles. No dia 27 de maio de há 4 anos, fechei acordo de palavra com o Sérgio Conceição, a minha ideia foi que eu, como presidente, não queria ter outro treinador porque estava certo que ele ia ter sucesso porque o conheço desde os 16 anos, consegui acompanhar o seu crescimento, entender o seu caráter e reconhecer o amor que ele tem ao FC Porto. O Sérgio Conceição tem contrato com o FC Porto até ao final desta época e a minha intenção e dele é renovarmos. Ele entendeu e disse publicamente que, nesta altura, quer estar focado na Champions, mas tenho a certeza de que no final ou antes faremos novo contrato, porque penso que é uma peça importante no nosso projeto, no meu projeto de há 4 anos, quando pouca gente acreditava e eu acreditava cegamente, e acredito que podemos fazer mais coisas ainda com ele. O Sérgio Conceição nunca impôs nenhuma exigência ou condição, nem a mim nem a ninguém do FC Porto, que condicionasse o seu trabalho, a sua permanência ou vinda para o FC Porto.”
Liga dos Campeões
“Depois de ter eliminado a Juventus, o FC Porto pode ir até à final e ganhá-la. É o meu desejo, a minha esperança e acredito que pode acontecer. Já acreditava em 1987, quando ninguém acreditava, só eu e, depois, o Artur Jorge, que se sentiu contagiado e acreditou. Fomos à final com o Bayern e ganhámos. Tirando a primeira final que tivemos, a 16 de maio de 1984, participámos em sete finais, e ganhámos. Seja qual for o adversário, queremos ganhar. A Champions pode ser um recurso, é sempre uma mais-valia, é a maior prova de clubes do mundo, a que dá mais prestígio. Só há oito equipas que chegam aos quartos de final no meio de centenas. O FC Porto entra sempre em tudo para ganhar, mas não entra sozinho para ganhar sozinho. Fomos eliminados da Taça com fatores que não foram normais, estamos em segundo no campeonato e ainda é matematicamente possível chegar ao primeiro, temos, neste momento, o acesso à Champions garantido, nunca estamos a encarar a Liga dos Campeões como um salvar da face, encaramos como uma competição em que um clube que ganhou duas, quer ganhar a terceira.”
Os dossiês Pepe, Sérgio Oliveira, Otávio e Marega
“No começo desta época, tínhamos quatro jogadores importantes a terminar o contrato: o Sérgio Oliveira, o Pepe, o Otávio e o Marega, e decidimos que queremos continuar com os quatro. O primeiro fui eu que decidi que tinha de ser o Pepe, pelo que significa para o FC Porto, eu sei o que ele podia ter ido auferir para o estrangeiro, ia ganhar, no mínimo, três vezes mais. Veio apenas por paixão ao FC Porto. Entendi que, pelo passado dele, por esta atitude, pela forma como vive o FC Porto no dia a dia, que tinha de ser o primeiro. Depois, quando toda a gente pensava que era por um ano, renovou por dois anos e daqui a dois anos vamos renovar certamente, pelo que tem vindo a provar. Ainda no último jogo, ele, um defesa central, cobriu mais de 10 quilómetros. Com o Sérgio Oliveira já renovámos, com o Otávio estamos em conversações diretas com o empresário, está preso por detalhes, e, em relação ao Marega, já comunicamos que estamos interessados em renovar, estamos à espera que o empresário possa vir para tratarmos disso logo que possível.”
Um campeonato de três em três dias
“Temos de ganhar os jogos que nos faltam e esperar pelos resultados dos outros. Ganhando os jogos que faltam, garantimos o segundo lugar, que não é o nosso objetivo, mas é o que nos salvaguarda e nos garante um lugar na Liga dos Campeões. Pensamos que, enquanto for matematicamente possível, a equipa vai entrar em campo para ganhar e a pensar que pode chegar ao primeiro lugar. No campeonato tem sido muito difícil, o FC Porto teve uma grande vitória em Turim, e achei muito engraçado ouvir dizer que isto foi uma vitória do futebol português. Foi uma vitória do futebol português porque o FC Porto é português, mas foi uma vitória do FC Porto, porque o futebol português, ao contrário do que acontece noutros países, não fez nada para nos ajudar. Fomos jogar uma partida decisiva e tivemos de jogar três dias antes em Barcelos. Tem sido um campeonato apertadíssimo, não há nenhum clube que consiga estar sempre ao mesmo nível jogando de três em três dias, com viagens e tudo, é humanamente impossível exigir que eles estejam sempre ao máximo nível. Quem devia salvaguardar isso são as pessoas que mandam no futebol português, não sou eu, é a Federação e a Liga. É muito bonito receber a mensagem “chapa cinco” antes dos jogos europeus, mas era bonito dizer: “Alto, para o baile, o FC Porto não pode jogar antes e depois no meio de uma eliminatória”. Eles não se preocupam nada.”
A interdição de acesso aos estádios por parte do público
“Na pandemia todos os jogadores sofreram, há a lamentar as pessoas que sofreram com isso e que faleceram, infelizmente faleceu muita gente sócia do FC Porto que conheço, e dos outros clubes também, é muito triste. Em relação à ausência de público, para mim é incompreensível, nos Açores não está melhor que nós, em termos de doentes, proporcionalmente, há gente no futebol. Em Portugal, decidiram fazer, durante duas jornadas, um ensaio para ver como corria, os responsáveis disseram que correu muito bem e fecharam novamente. Fizeram ensaio para quê? À espera que corresse mal para terem um pretexto? Da mesma forma que houve jogos com público limitados e distâncias cumpridas, é inexplicável que o Presidente da República e o Primeiro-Ministro tenham ido assistir a um humorista num espaço fechado e, onde podem estar 50 mil, não possam estar dez ou 20 mil. As famílias que têm camarotes não podem usufruir, mas podem estar em casa juntos.”
As contas azuis e brancas
“O FC Porto, por não haver público nos estádios, obteve 27 milhões de euros de prejuízo, porque perdeu receita de jogos, de venda de lugares cativos, de camarotes e de merchandising, porque as lojas estão fechadas. A ajuda que tivemos do Estado? Pagamos 42 milhões de euros em impostos e mais sete milhões de euros de segurança social, a ajuda foi termos dedução do IVA. Tínhamos a receber, até 31 de dezembro, 7,5 milhões do Estado, não pagou, fizemos uma queixa no tribunal a cinco de janeiro, pagaram quatro, reclamamos três milhões e meio a 21 de janeiro, o tribunal notificou o Ministério das Finanças. Quando recebemos? Nunca. Entretanto, em março, já pedimos um milhão e setecentos mil, estamos a pedir o que é nosso. Não fizeram absolutamente nada para ajudar os clubes e retêm o que é nosso, não nos pagam. Este governo está a matar os clubes. Não é sério que um Estado multe os clubes quando se atrasam e não devolvam o que é nosso. Se pedíssemos um empréstimo, levavam-nos o cofre. Estamos convencidos que vamos sair do Fair-Play financeiro, está tudo orientado nesse sentido, tivemos, neste primeiro semestre, um lucro de 34 milhões de euros, neste momento temos dados que permitem pensar que, no segundo, vamos lucrar ainda mais. O contributo da Champions foi importante, a saída de jogadores que não foram contabilizados, como o Danilo e outros que estão com opções que vão ser feitas, estamos no bom sentido. Se tudo correr bem, um dos empréstimos obrigacionistas vai ser pago antecipadamente, antes de junho, e outro será pago em junho.”
Os milagres de último minuto na equipa B
“Ainda hoje falei com um responsável do futebol português e falámos disso. Disseram-nos que havia vários complôs para que o FC Porto B descesse de divisão. Num deles, que nos foi dito em Chaves, a Federação tinha interesse em que o FC Porto descesse para que os jogos passassem para o Canal 11. Outro era da APAF. Não acredito nem num nem noutro. Jornada a jornada a equipa B perde pontos por erros dos árbitros. Se não é pelo Canal 11 ou pelo complô da APAF, então digam o que é. Bruxas? Não acredito. Milagres, só em Fátima e são poucos. O último jogo em Chaves, o FC Porto fez o golo da vitória a três minutos do fim. O jogador estava meio metro em jogo e o fiscal levantou a bandeira. Foi a pensar no Canal 11? Na APAF? Talvez não. Foi incompetência, talvez sim. Uma das maneiras, acreditando na seriedade, muitos desses erros foram tão flagrantes que, se houvesse VAR, evidentemente, de certeza absoluta, o golo era considerado e o FC Porto teria mais dois pontos”.
O projeto da nova cidade desportiva do FC Porto
“O projeto está em andamento nos aspetos burocráticos, tem havido passos em frente muito significativos, esperamos, em breve, iniciar as obras. Já temos acordo com os terrenos que não pertenciam ao proprietário principal. Será desbloqueado brevemente”.
O processo “Raúl Alarcón”
“O Alarcón entregou o assunto ao advogado espanhol, quando saiu esta notícia, eu e o senhor Quintanilha contactamo-lo e na quinta-feira chega ao Porto, na sexta vai reunir connosco e está decidido que vamos recorrer da decisão até onde for possível nos tribunais internacionais. O Alarcón não estava dopado, ganhou duas Voltas e, em todas as etapas, fez controlo anti-doping, e, em nenhuma, acusou positivo. Agora, o senhor Alarcón teve um desastre, que foi conhecido, ficou mal tratado, foi operado e, nessa operação, tomou medicação que, se estivesse a correr, não iria tomar, e a W52 comunicou às entidades, o homem não ia morrer de dor sem anestesias. Sabemos que foi fruto do resultado dos remédios que tomou na operação, seja qual for a decisão vamos até às últimas consequências para defender a honra do atleta e da equipa. Um grande negócio para as farmacêuticas era ir à Volta de Portugal vender Rennies”.
O feito olímpico no andebol com Quintana sempre presente
“Fiquei muito satisfeito com a vitória de Portugal, fiquei muito emocionado e contente com a homenagem que lhe fizeram. Era um jogador fantástico, um cidadão exemplar, um homem dum caráter que é refletido pela emoção dos colegas, nota-se que o Quintana, sem estar lá, está sempre presente. Aquele gesto do Rui Silva marcar o golo decisivo com o Quintana tatuado no braço não é por acaso. É justo que o treinador do FC Porto seja reconhecido como fundamental na vitória de Portugal. Foi ele que revolucionou o andebol português, pôs o sete para seis, que não se usava, a maneira de defender. 12 atletas desta equipa nacional são do FC Porto, não são 13 por causa do Quintana”.
Continuidade do legado no FC Porto
“Quero chegar ao fim do dia, quando me deito, e ter a consciência que fiz tudo o que o FC Porto precisava sempre. No dia em que isso não acontecer, vou embora. Na primeira reunião que fiz em abril de 1982, disse que estaria ali três meses, dois anos ou o até ao término do mandato, mas no dia em que não fizesse o que entendesse ser melhor para o clube, eu viria embora no dia seguinte. Posso ter cometido erros, mas sempre a pensar que tinha sido o melhor para o clube. Enquanto os sócios quiserem, como demonstraram, estarei lá”
Fonte: FC Porto