Sérgio Conceição regressa outra vez à Bélgica, após ter sido confrontado com passagem por Brugge em 2022/23. Debate-se com outro campeão, o Antuérpia, e nova oportunidade de aprofundar a história do técnico portista como jogador do Standard Liège, onde deu recitais, protagonizou exibições escaldantes e animou a plateia em Sclessin, fazendo-se ídolo dos Les Rouches, venerado pela claque com músicas.
Foi entre 2004 e 2007, apesar de ter voltado mais tarde como adjunto do falecido Dominique d’Onofrio, que Conceição se destacou como figura cimeira no futebol belga, marcando 21 golos em 82 jogos e sendo eleito jogador da época em 2004/05.
A seu lado estiveram durante o percurso Sá Pinto, Jorge Costa, Nuno André Coelho, Areias e Almani Moreira, mas também alguns brasileiros como Wamberto, estrela antes no Ajax, que passou as primeiras duas temporadas com o português, e Igor de Camargo, que conviveu nas duas últimas. Este, que se transformaria mais tarde em internacional belga, foi taxativo quanto ao poder magnetizante de Conceição e o seu vendaval de emoções.
“Teve uma influência muito grande pelo jogador que é e pela sua personalidade. Trouxe-nos muita qualidade e eficiência no campo e uma liderança inabalável para o balneário”, resume De Camargo. “A mim colocou-me logo em sentido. Não me esqueço das suas palavras quando ia dar uma entrevista. ‘Não vais dar entrevista, primeiro jogas, depois falas!’ Marcou-me! Transmito aos mais novos”, relata Igor, nove vezes internacional belga, figurando como jogador histórico do Standard.
Para De Camargo, Sérgio Conceição “impõe-se de forma muito forte em qualquer grupo por onde passe”. “No Standard identificou-se imenso com os adeptos, pelo seu espírito guerreiro. Essa é uma marca que não pode faltar, ele teve de sobra”, acrescenta, compreendendo a harmonia entre os atributos de jogador e poder de pensar o jogo. “O Sérgio é muito inteligente e tem uma paixão pelo futebol que poucos têm. Não tinha dúvidas de que seria um bom treinador. Ele ama o futebol e o clube onde está. O FC Porto fez uma grande escolha e deu tempo para que implementasse a sua marca”, sublinha, avisando já o ex-companheiro dos perigos do Antuérpia. “Na nossa altura era um clube em crise, hoje está muito bem estruturado e tem um ótimo plantel. Certamente haverá estádio cheio e um jogo de grande volume na componente física”, assegura.
Wamberto e um Natal em Coimbra
Wamberto, outro dos reforços do Standard para 2004/05, alinhou nos tributos já que as impressões digitais de Conceição são cristalinas. “Sérgio foi fundamental para nós. A vinda dele foi incrível, pelo astral positivo dentro e fora do campo. Gostava muito de vencer, passava enorme motivação a todos. Faltou-nos o título como coroação, foi pena. Tê-lo como companheiro foi ótimo, pela energia transmitida a todo o balneário. Ficou um enorme respeito”, valoriza o antigo extremo.
“Guardo só coisas boas dele, até porque ficou a imagem de um ser humano muito disponível para ajudar. Muitas pessoas não entendiam a sua sinceridade. Até hoje não entendem o jeito dele. Mas o que tiver para falar, vai falar na cara e isso ofende muitos”, avalia Wamberto, tecendo rasgados elogios a um treinador sem filtros, que não precisou de encontrar outro chip para comandar e convencer. “O Sérgio continua a crescer como treinador de topo. A personalidade nunca mudou. Ele carrega essa personalidade dentro do balneário, passa isso a jogadores e a quem colabora com ele. Faz um grupo vencedor com esse caráter”, gaba, facilitando a mira portista ao Antuérpia.
“O futebol belga é muito corrido e vai haver esse começo forte, de 20 ou 30 minutos. O Antuérpia trouxe a dimensão física nos últimos anos e tem crescido imenso. Mas Sérgio já conhece bem este futebol, vai gerir bem. Não será fácil, mas o FC Porto é forte, tem nome, vai impor-se e não se vai deixar cair no ritmo deles. Acho que sairá com a vitória”, perspetiva Wamberto, pronto a retomar contacto com Conceição.
“Um abraço para ele. Era muita brincadeira, falava-se muito português e não esqueço um dos melhores natais da minha vida, em sua casa, em Coimbra. Convidou-me a mim, ao Carlinhos, ao Michel e respetivas esposas. Foi uma grande receção feita por ele e pela Liliana”, recorda.
Runje para Camargo: “És como o vinho, quanto mais velho, melhor ficas”
A importância do Standard para Conceição mede-se, ainda, pelo facto de ter hoje com ele dois colaboradores de quem foi companheiro em Liège: Runje, que foi técnico de guarda-redes no Antuérpia antes de se mudar para o Dragão, e Dembelé. Igor de Camargo só tem elogios para ambos. “Tive o prazer de jogar com Dembelé e Runje. Já no final da minha carreira voltei a encontrar o Runje e disse-me ‘és como o vinho, quanto mais o tempo passa, melhor ficas.’ É algo que ficou gravado. Tal como com Sérgio, também aprendi bastante com eles os dois”, elucida o antigo ponta-de-lança, nove vezes internacional pela seleção da Bélgica.
Fonte: ojogo.pt