O clima de intimidação que se abateu sobre a Assembleia Geral (AG) da última segunda-feira, no Dragão Arena, não será suficiente para abalar a vontade que os sócios do FC Porto têm de votar na proposta de alteração dos estatutos do clube.
Esta é a conclusão retirada do inquérito levado a cabo por O JOGO junto de seis sócios ilustres dos dragões, que defendem, aliás, o contrário: na reunião magna da próxima semana (dia 20), é bem provável que a afluência de associados seja superior.
“A adesão será maior”, perspetiva José Fernando Rio, candidato à presidência portista nas eleições de 2020. Uma posição também assumida por Carlos Abreu Amorim. “Espero que haja ainda maior afluência e que a segurança seja reforçada”, afirma o ex-deputado social-democrata ao nosso jornal. Nessa senda, Álvaro Magalhães, cronista do nosso jornal, antecipa um clima escaldante na segunda-feira. “Isto já tomou contornos de confronto eleitoral. Até vai dar para aferirmos forças. A PSP terá de estar lá, com efetivos de valor”, ressalva o escritor.
O reforço da segurança é, de resto, apontado de forma quase unânime como uma das prioridades para a AG de segunda-feira. A decisão, sublinha Rio, terá de ser tomada por Lourenço Pinto, presidente da Mesa da Assembleia Geral, mas o caminho a seguir é tido como claro pelos inquiridos: chamar a Polícia de Segurança Pública (PSP). “Creio que a próxima AG estará ferida de morte se não contar com a presença das forças policiais no recinto”, aponta Tiago Silva. “Desde logo, todos os que perturbem e intimidem outros sócios têm de ser postos fora da sala. Se for necessário, que se recorra à autoridade pública, que pode ser requisitada”, sublinha Carlos Abreu Amorim. Guilherme Aguiar, antigo “vice” dos dragões, imputa a responsabilidade de assegurar as condições necessárias de segurança à cúpula. “Acredito que a adesão será maior desde que a Direção dê garantias de proteger a integridade física dos sócios”, afirma.
Em relação ao que se passou na AG que acabou suspensa, fruto dos incidentes ocorridos nas bancadas do Dragão Arena, os seis inquiridos convergem na condenação das agressões, por atentarem contra a liberdade dos sócios. “São, em primeiro lugar, lamentáveis todas as limitações que se possam fazer à liberdade dos associados em manifestar a opinião”, aponta o advogado Miguel Brás da Cunha. Carlos Abreu Amorim, por sua vez, interpreta os factos ocorridos como uma quebra na lógica habitualmente seguida pelo FC Porto. “O atraso na decisão de pôr fim à reunião fez com que a reputação do clube ficasse em más condições. O FC Porto sempre representou a luta contra a lógica do poder instituído e, de repente, parecia que estávamos no sítio errado”, atira o professor universitário.
Inquérito
1 Que comentário lhe merecem os acontecimentos e incidentes registados na Assembleia Geral (AG) de anteontem?
2 Que efeitos poderá ter nos sócios na Assembleia Geral de dia 20? Que cuidados deverão ser tomados a nível de segurança?
Carlos Abreu Amorim, ex-deputado e professor universitário
“Quem tentar intimidar, tem de ser posto fora”
1 A organização podia ter previsto que esta AG teria grande afluência. Muita gente foi para casa na passagem de uma fila para a outra. E permitiu-se a manutenção dos incidentes durante largos minutos. O atraso na decisão de pôr fim à reunião fez com que a reputação do clube ficasse em más condições. O FC Porto sempre representou a luta contra a lógica do poder instituído e, de repente, parecia que estávamos no sítio errado.
2 Espero que haja ainda maior afluência e que a segurança seja reforçada. Desde logo, todos os que perturbem e intimidem outros sócios têm de ser postos fora da sala. Se for necessário, que se recorra à autoridade pública, que pode ser requisitada.
José Fernando Rio, empresário e antigo candidato à presidência
“Mais segurança, seja privada, seja a polícia”
1 Nunca imaginei assistir a uma noite daquelas numa AG do clube. A mobilização dos sócios foi extraordinária, o que mostra o interesse pelos assuntos do FC Porto. Depois, tudo correu mal. A sala era exígua, a AG começou ainda antes de todos estarem dentro da sala e, mal se começou a falar, houve pessoas a insultar e intimidar, agressões de sócios a outros sócios. Com o caos instalado, não foi possível discutir os estatutos, quanto mais votar…
2 A adesão será maior, o que levanta problemas ao presidente da MAG. Tem de haver mais segurança, seja privada, seja através da polícia. Lourenço Pinto tem experiência e capacidade para tomar essa decisão.
Guilherme Aguiar, antigo vice-presidente do FC Porto
“Em nada dignifica uma instituição de 130 anos”
1 O que se passou foi triste e infeliz, desde a organização, que não previu que a AG teria muito mais do que 400 militantes. Deviam ter marcado de imediato para o pavilhão. Depois, o que se passou lá dentro, que não presenciei, mas vi imagens e comentários, é muito triste e em nada dignifica uma instituição com 130 anos. Fiz várias AG no meu tempo na Direção, algumas bastante difíceis, mas nunca se passou o que se passou nesta. Todos os sócios são livres.
2 Acredito que a adesão será maior, desde que a Direção dê garantias de proteger a integridade física e anímica dos assocaidos. É um papel que cabe inteiramente à Direçao, que terá de encontrar soluções.
Álvaro Magalhães, escritor
“Já tomou contornos de confronto eleitoral”
1 Achei tudo muito lamentável. Falharam na organização, como disse, e muito bem, o André Villas-Boas. Não estavam a contar com tantos sócios, estavam convencidos de que iam fazer as alterações todas. A afluência é o aspeto mais significativo de tudo o que aconteceu. Pancadaria e coação são coisas que acontecem nas AG, mas, depois do sucedido, estará mais gente na segunda-feira. Isto está a tocar o coração dos adeptos.
2 A única segurança que havia era privada e ineficaz. Segunda-feira, espera-se algo escaldante, porque isto já tomou contornos de confronto eleitoral. Até vai dar para aferirmos forças. A PSP terá de estar lá, com efetivos de valor.
Tiago Silva, advogado
“AG ferida de morte se não tiver polícia”
1 Foi chocante assistir-se aos episódios de coação, intimidação e agressões por parte de alguns adeptos, que procuram esmagar a liberdade de pensar, escolher e decidir dos sócios, que, num movimento sem precedentes, acorreram em força ao Dragão para decidir o futuro do clube. Não compreendo como é que toda a Direção foi capaz de assistir a tudo sentada, sem qualquer apelo à calma.
2 Esta proposta de alteração dos estatutos até deveria ser retirada, pois não faz sentido discuti-la quando o próprio presidente deixou cair as principais alterações. Creio que a próxima AG estará ferida de morte se não contar com a presença das forças policiais no recinto.
Miguel Brás da Cunha, advogado
“Que os sócios possam intervir com liberdade”
1 São, em primeiro lugar, lamentáveis todas as limitações que se possam fazer à liberdade dos associados em manifestar a opinião. Muito mais quando atingem a dimensão física que atingiram nesta Assembleia Geral.
2 Vou responder com aquele que é o meu desejo: que os associados do FC Porto tenham a capacidade, em todos os momentos, de intervir com total liberdade. Do ponto de vista logístico, espero que sejam garantidas condições de total segurança no acesso e dentro do Dragão Arena na manifestação da livre vontade de todos.
Fonte: ojogo.pt